Como poderia começar desejando um Feliz Natal diferente?
Poderia começar desejando palavras bonitas, belas e de vocabulário esdrúxulo, extravagante, que fariam todos se encantarem. Poderia usar Victor Hugo, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, entre outros, para poder me ajudar a desejar um espírito natalino de muitos sentimentos, certezas e emoções e, de poucas perguntas, medos e incertezas.
Poderia usar poemas e frases, mas não enfio mais poesia em situações onde o protagonista não sou eu e o coadjuvante não consegue ser lírico. Poderia desejar que se apaixone e ame, e que amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer. E que esquecendo, não guarde mágoa. Poderia, ainda, já desejando, que tenha amigos e inimigos, muitos e poucos, mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas; e que, entre eles, haja pelo menos um que seja justo. Poderia pedir para render-se, como um dia, eu me rendi. Mergulhar no que você não conhece como eu já mergulhei. Não se preocupar em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho. Que a esperança não murche; ela não cansa, também, como ela, não sucumbe a crença. Vão-se sonhos nas asas da descrença, voltam sonhos nas asas da esperança. Que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes e quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja amor pra recomeçar; e se tudo isso acontecer, não tenho mais nada a lhe desejar. Afinal, para falar de um acontecimento futuro em relação a outro, já ocorrido, não tenho mais o que falar. Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada. Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Incerteza do Engano
É
interessante observar as posições e ações das pessoas com as quais já
convivemos ou estamos convivendo. As ações são imediatas, acontecem pelas leis
da física e química, instantaneamente. E ficam certamente decididas: ou são
realizadas, ou não são. É a certeza, porque, uma vez executada tal ação – seja palavra
falada, seja atitude tomada –, já o fez. Lógico, temos condições de
aperfeiçoa-la, dependendo do ponto de vista, intensificando-a e/ou contornando
a situação. O interesse por detrás é constantemente percebido e assimilado,
querer protagoniza-lo é a decisão do autor e das intenções.
Porém, o
ponto a ser levantado, remete-nos a simples ciência da ação: a execução. Não
existe a meia ação. Ou o quase, meio(a), metade. Talvez.
A pior
convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. O “quase”
não só me incomoda, como, também, incomoda muita gente: Luís Fernando
Veríssimo, Sarah Westphal, Fernando Pessoa, Clarice Lispector, entre outros
grandes nomes que descreveram e tentaram explicar sobre o “dito cujo”.
Quem quase
ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo,
quem quase amou não amou. Viver cheio de possibilidades é viver na indecisão,
na incerteza, na utopia de um mundo (de fantasias) em que, normalmente, o “querer”
e “poder” podem vir dissociados; e, resta-nos o trabalho árduo para adequar os
objetivos pessoais e profissionais ao mundo imaginado e auferido. Basta pensar
nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por
medo, nas ideias que nunca saíram ou sairão do papel.
É um
paradoxo: por mais que se vive, tentando realizar por completo as satisfações e
vontades, às vezes, sendo egoístas, audaciosos e insensíveis ao sentimento
alheio; as pessoas ainda tendem a escolher uma vida morna. As pessoas estão
fadadas ao sofrimento de entender suas situações, de esperar e nada fazerem, e,
mesmo assim, deixar com que a vida as leve. Sobra covardia e falta coragem até
para ser feliz. A resposta a tudo isso é estampada na frieza dos sorrisos; na
frouxidão dos abraços; na indiferença do “Bom Dia”, quase que sussurrados. A
paixão queima. O amor enlouquece. O desejo trai. Tentar, tentar, tentar.
O nada não
ilumina, não ajuda, não inspira, não aflige nem acalma; monotonia apenas amplia
o vazio que cada um traz de si. As decisões são ímpares e sair da ‘zona de
conforto’ é um escape que nos inova. O pensamento, o cabelo, as roupas, as
atitudes, a identidade.
Se a virtude
estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados,
as árvores secas como nos invernos de Nova Iorque e o arco íris estivesse em
tons de cinza. Não é que fé mova montanhas, a persistência é relevante até para
as coisas que não podem ser mudadas, pois, a partir daí, resta-nos paciência e
tolerância.
Oferecer
conselhos é o mesmo que repaginar o passado e, remedia-los a outrem diante de
problemas encontrados e soluções rasuradas. Creio que quase sempre é preciso um
golpe de loucura para se construir um destino. Quase sempre a maior ou menor
felicidade depende do grau de decisão de ser feliz. Afinal, eu quase que nada
não sei. Mas, desconfio de muita coisa.
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