sábado, 26 de janeiro de 2013

Conto descontado

Escutou um ruído e percebeu que seu filho havia levantado. Chispou para trás da porta da sala, permaneceu fixo até ver a silhueta do menino chegar na sala. Ansioso, pulou na frente da criança cantando um desajeitado "Parabéns a você" com uns gritos misturados de euforia.
O filho meio sonolento levou um sobressalto que o fez acordar repentinamente. De relance, viu o embrulho tão sonhado, talvez, seria aquilo que o vinha angustiando há algum tempo. O embrulho foi se desfazendo e o objeto foi se concretizando. Observou cada parte do seu presente: a bicicleta que tão sonhara. Guidão, campainha, breque, rodas, pedais luminosos, ao formato de super herói, manivela, rodinhas laterais, completa. Quando fitou o selim, queria sentar nela, e andar. Mas, como, se não sabia pedalar.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Linda Morena

A espera é angustiante, as horas não passam, o tempo parou, a ansiedade está no ar que respiro.


Senti o coração confranger-se de espanto "lá estava ela". Entrelacei os dedos e apertei-os com toda a minha força, de tanto nervosismo. Era quase insuportável a violência com que meu sangue me golpeava as fontes.


Súbito, notei aquele monumento donairoso, de andar digitígrado, deixando anestesiado meus neurônios flácidos. Seu corpo escultural do tipo aristocrático de beleza.Seus cabelos morenos encaracolados com as madeixas na testa, seu perfume atenuante, envolvente, penetrante nas narinas de qualquer ser imortal. E ela, passa desfilando com o seu olhar gélido, indiferente ao mundo, indiferente aos olhares.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Real ignorância


Saudade não é um bom motivo para ter de volta as pessoas que você tratou com descaso enquanto estavam do seu lado.

Seu jeito de descaso comigo me entristece e o pior: faz-me ter mais vontade de saber e inteirar-se contigo. Gosto muito de ti, isso não nego. Já lhe propus algo, mas no momento incerto. Por besteiras que fiz, mesmo sabendo que não tínhamos nada. Peço desculpas. Não faria isso, porque estava sem condições de consciência e noção. Não farei mais. Se temos algo, por enquanto, é uma amizade. E não quero perdê-la. 


Repito: gosto de você.


Sou muito criativo. E imagino coisas. Com seu sumiço, então. Digo isso no sentido de trair o que não é selado. Traição sem uma séria relação? Quando você curti/gosta/ama, o primeiro beijo é inesquecível e a vontade de querer mais, de deseja-lo é eterna, a sensação de carinho confortável é ótima. 

Mas quando o beijo é só o beijo, sem amor, sem nada, nada se sente e, o "prazer" é só "prazer temporário". Ter o que só um beijo cultivou e os desejos afloraram é se prender para um. E se não for a vontade dos dois, é preciso que a verdade apareça e salve.

O anfitrião e seu convidado


É apaixonante a estrutura da nossa consciência ou, em outras palavras, esse armário que armazena tudo o que vivenciamos em diferentes gavetas ou prateleiras. É fantástico reconhecer a vida por esse prisma. Tudo fica compreensível e essa compreensão nos abre um fantástico caminho de evolução. 
É bom lembrar que o homem evolui através do desejo e do medo. Não há medo sem um desejo escondido e não há desejo que não traga consigo um medo. O desejo e o medo estão ligados. Temos medo do que desejamos e desejamos o que nos faz medo.
E quanto ao medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê. 
A princípio bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar a luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio. Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado.
O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente porque, de repente, uma terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, inesperadamente, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático. Causa um certo medo mudar a rotina e sair de uma zona de conforto. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade. 
E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro. 
Olhe para o relógio: hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim.
Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos. Só deseja um amor saudável, quem já viveu uma paixão dilacerante. Porque a paixão corroía tudo por dentro até tirar o fôlego, mas até a dor parecia bonita: aquele único instante de felicidade com o Outro compensava os trezentos outros de infelicidade.
E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade. Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno.
Afinal, que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, fingindo um pouco de resistência, mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Trontéia

"Ondas peltas e areias dandras são uma alquimia serível para os rolatões e rolatinhas que se zupam na praia de Trontéia durante os campeonatos regionais de carbe. Não é preciso, porém, conhecer os mequetes da prancha para se zupar nessa cidade rorvada a 25 Km de Fortaleza. O quelo turístico do Lago Dourado de Trontéia, inaugurado em priuto, tem dois toboáguas de 12 trufis de altura, restaurantes, náquas e talamites. Tofe as crianças, playground aquático e lulis eletrônicos. O ingresso para o quelo turístico tratoi por 45.000 grumpetas. Criança de nia 1 trufi de altura não zuza."
 
 
 
 
As fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu conhecimento!
 
 
 
 
"Ondas grandes e areias brancas são uma química perfeita para os garotos e garotas que se divertem na praia de Trontéia durante os campeonatos regionais de surfe. Não é preciso, porém, conhecer os segredos da prancha para se divertir nessa cidade situada a 25 Km de Fortaleza. O parque turístico do Lago Dourado de Trontéia, inaugurado em agosto, tem dois toboáguas de 12 metros de altura, restaurantes, piscinas e toaletes. Para as crianças, playground aquático e jogos eletrônicos. O ingresso para o parque turístico sai por 45.000 reais. Criança de menos de 1 metro de altura não entra."
 
 
 
 
Faço dizer aos outros aquilo que não posso dizer tão bem,
quer por debilidade da minha linguagem,
quer por fraqueza dos meus sentidos.