Poderia
julgar que uma palavra com classe, gênero e número, poderia ser algo,
extraordinariamente, divino. Seria muito blasée escrevê-la só por escrever. Não
serei apático, indiferente; mesmo porque, só ao pronuncia-la, a dita cuja já
impõe respeito. Sob a natureza de qualquer um.
Ela
chega e, com orgulho, permanece. Afinal, sua manifestação pretende ser simples,
mas, ao mesmo tempo, majestosa. Subitamente, ao senti-la, causa-nos uma
sensação de realização. Algo compreendido da mais pura essência. Por mais natural
que possa aparecer, por mais coincidência que notamos (ou não), acontece todos
os minutos, a qualquer momento, a qualquer lugar. Ingênua eureca!
Sobrenatural.
Natural. Começo por negar qualquer possibilidade de me afirmar poeta, posto que a
minha identidade possa realmente estar nas palavras que profiro ou silencio.
Porque eu sei que as pessoas não só entenderão, mas sentirão. Haja vista, você
e eu bebemos na mesma fonte por termos como ofício o amor pelas/das/nas
palavras. Enquanto vou escrevendo, você, caro leitor, vai se deleitando das
palavras como poetas livres a ‘passarinhar’ de liberdade e de prazer num
universo infinito de vivências, levado pela sedução do momento.
Movimento
retardado, paradoxal: construímos mais computadores para armazenar mais
informações para produzir mais cópias do que nunca, mas temos menos
comunicação. Tivemos avanços na quantidade, mas não em qualidade. Era de
informações, não era?
Estes são
tempos de refeições rápidas e digestão lenta; de homens altos e caráter baixo;
lucros expressivos, mas relacionamentos rasos. Estes são tempos em que se
almeja paz mundial, mas perdura a guerra nos lares; temos mais lazer, mas menos
diversão; maior variedade de tipos de comida, mas menos nutrição. O ‘muito’
levado a ‘nada’. São dias de duas fontes de renda, mas de mais divórcios; de
residências mais belas, mas lares quebrados. São dias de viagens rápidas,
fraldas descartáveis, moralidade também descartável, "ficadas" de uma
só noite, encontros e desencontros, corpos acima do peso, e pílulas que fazem
de tudo: alegrar, aquietar, matar. Mascarar. É um tempo em que há muito na
vitrine e nada no estoque; um tempo em que a tecnologia pode levar-lhe estas
palavras e você pode escolher entre fazer alguma diferença, ou simplesmente
apertar a tecla DEL.
Não há
acaso quando todos os caminhos convergem para o mesmo ponto em nome da arte;
assim como não há fronteiras quando a literatura serve de passaporte para
transcender os mais longínquos lugares que só a arte pode indicar. Meus momentos de epifania que fazem eu
filosofar está ligada diretamente a minha melancolia. Pois, daí, divido-me e,
aos poucos vou me reconstruindo e ‘faxinando’ os montes do passado deixados de
lado e guardados no mais profundo baú das memórias. Música que me tira deste
mundo, leva para os mais aguçados e instigantes pensamentos. É o que entorpece
meus sentidos, é o que desperta minha raiva ou simplesmente me abraça. É o que,
quando me calo, fala por mim. Sou eu. É o que me faz suportar o nada e, ao
mesmo tempo, tudo.
Senti o Deja Vu na passagem. Fechando e abrindo os olhos, é como se num piscar deles, tudo poderia estar acontecendo. Parabéns, surpreendente a capacidade de desenvolver em curtos espaços e tempo, magnífico contexto.
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